segunda-feira, 18 de novembro de 2013
sábado, 16 de novembro de 2013
Uma questão de administração ou de vontade política?
Jornei Costa
“O resultado era um
sentimento difuso, e plenamente justificável, de que uma ameaça
pairava sobre tudo e todos.” (fragmento pinçado do texto do livro
A caminho de Cabul e Bagdá de Jason Burke).
Pois a
frase acima é um resumo da percepção que o chefe de reportagem do
jornal britânico Observer fez do sentimento que foi tomado as
populações do Afeganistão, Paquistão e Iraque durante a
intromissão mal justificada dos americanos, após o ataque às
torres gêmeas de 11 de setembro.
Quando as
instituições deixam de cumprir o seu papel é quebrado a relação
de confiança entre o Estado e os cidadãos. Estabelece-se o caos. E
quando o cidadão comum fica a mercê da sorte sentimo-nos
completamente abandonados. O grau de incerteza aumenta e somos
tomados de uma sensação de total fragilidade civil. Estou falando
de segurança pública: do compromisso do Estado de garantir o
direito do cidadão se movimentar e viver em segurança, do direito à
propriedade, do direito de garantir e preservar o seu patrimônio;
enfim, de saber que a sua integridade material pessoal e familiar não
é uma situação ligado ao acaso, mas uma questão de ordem
controlada e estabelecida.
Contragosto,
vejo o crescimento da incapacidade do Estado para gerir e controlar o
aumento da agressão aos direitos individuais e, também do processo
de rapinagem voluntária exercida por indivíduos mal-intencionados,
também rotulados e conhecidos como bandidos, assaltantes, meliantes
que, independente da denominação, perturbam e tiram o sono de quem
quer viver em paz.
O
conflito de responsabilidades se concretiza. Os argumentos
justificando o isolamento e a inoperância das instituições são
engenhosos e criativos: ora é falta de estrutura, ora é falta de
recursos, ora é falta de gestão, ora é a falta de preparo, ora é
a desproporcionalidade entre o investimento na segurança e o
crescimento da criminalidade. Enquanto isso o governo comemora ser a
7ª economia mundial.
Status à
parte, precisamos de humildade para ver o que sabemos fazer e o que
não sabemos fazer. Precisamos deixar de achar que somos uma
superpotência e que está tudo bem. Precisamos sim é revisarmos os
atuais modus operandi. Porque não terceirizar aquilo que não
sabemos fazer, como por exemplo a administração do sistema
carcerário, copiar políticas adotadas por comunidades de outros
países que viveram e conseguiram reduzir significativamente os
índices de criminalidade; enfim, revisar verdades que valiam ontem e
que não valem mais hoje.
Mas
também não podemos dizer que somos ignorantes em gestão da
segurança pública, até porque já tivemos alguns exemplos
regionais com propostas e ações fundamentados em conceitos
administrativos e de qualidade. Evoco à lembrança de uma governante
do Rio Grande do Sul cujo secretário escolhido adotou itens de
controles administrativos e de gestação da qualidade para
acompanhar o desempenho da Brigada Militar e da Polícia Civil.
Lembro, à época, que num mês fui abordado três vezes (durante
quarenta anos havia vivido tal experiência apenas duas ou três
vezes), o que por incrível coincidência aconteceu duas vezes no
mesmo dia, uma em Pedro Osório e outra em Cerrito. Este mesmo
secretário propôs a unificação das polícias como objetivo de
melhorar a comunicação entre elas e com isto, o combate à
criminalidade. A reação contrária às ideias do secretário foi
imediata. Ser controlado, ter que apresentar relatórios de
desempenho, o que isto? A proposta foi vista como uma interferência
ao sistema já cristalizado e tido como adequado. Restava saber:
adequado a quem? O secretário durou três meses, foi enxotado,
escorraçado do governo. Os ânimos se acalmaram. Nada mudou.
E aí vem
a pergunta, o que aconteceria se negligenciássemos a obrigação do
cidadão de pagar os impostos a ele atribuídos?
Acreditar
que podemos mudar é muito mais auspicioso do que simplesmente ajudar
a enterrar os cadáveres.
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