As incontestáveis limitações e finitude do ser
by JCosta
Nunca entendi muito bem porque se fala pouco ou quase nada sobre a morte. Talvez seja o nosso comodismo de fugir de temas controversos: é mais confortável. Comportamo-nos como se a nós fosse reservada a possibilidade da existência infinita. Ignoramos o tempo. Resistimos a reconhecer as nossas limitações e em razão disto, muitas vezes, não aprendemos a lidar com elas. Então quando não conseguimos mais carregar uma montanha nas costas, sofremos por isto. Talvez se tivéssemos a consciência de tais limitações não lamentaríamos, mas, sabiamente, recorreríamos ao uso de algum equipamento para nos auxiliar em tarefas em que somente o uso do nosso corpo é insuficiente.
Deveríamos ter consciência que somos seres finitos, que fazemos parte da mãe Natureza e, portanto, estamos sujeitos a um ciclo de vida como todos os seres vivos. E é esta lucidez que nos permitirá encontrar soluções para compensarem as limitações que se impõem com o passar do tempo. Isto passa por repensarmos a arquitetura de nossas habitações; a disposição, o tamanho e a funcionalidade dos móveis; o tipo de dieta alimentar; programar consultas e exames de rotina para monitoramento adequado de parâmetros de saúde, entre outros.
É claro que precisamos viver o presente, mas não podemos ignorar o futuro. O problema não é envelhecer. O problema é não sabermos lidar com os conflitos inerentes ao processo de envelhecer. Outra coisa são as pessoas do convívio mais próximo, que por não entenderem as limitações dos mais velhos, passam a importuná-los (tem exceções, é claro).
Entre os muitos desafios de viver, também precisamos aprender a encontrarmos a melhor alternativa para as limitações que chegarão com o envelhecimento do nosso corpo. Precisamos nos dispor a ceder, a reconhecer, de sermos mais tolerantes, de substituir a força física pela inteligência, de encurtar as caminhadas sem nunca deixar de fazê-las, de fazer trocas e, o mais importante, de querer viver.
O mundo mudou e isto significa que não precisamos mais nos comportar como elefantes, que ao perder os dentes visualiza a morte como iminente. Hoje contamos com vários recursos, tanto na medicina, como em várias outras áreas, o que tem ajudado numa melhor qualidade de vida das pessoas mais velhas. E são esses recursos associados a nossa disposição de tocarmos a vida é que darão mais dignidade ao espermatozóide que um dia teve sucesso e nasceu para ser feliz e, paradoxalmente, também precisa morrer.
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