terça-feira, 17 de novembro de 2015

O Armazém

by J Costa

Numa das muitas curvas da RS 608, estrada de chão que liga Pedras Altas a Herval, ficava o Armazém. Não era um armazém qualquer, era um armazém com cara de Shopping Center ao estilo Idade Media. 

O movimento começava cedo, com o café da manhã numa mesa de dois metros e meio por um e quarenta, sob o teto de um rancho coberto por palha de santa-fé. Mais ao canto, na cozinha, o que não faltava era água quente contida em chaleiras de ferro em cima de um fogão da marca Berta.

Naquele centro comercial, cujo foco era o armazém, os nativos atendiam suas demandas básicas, entre elas, a informação; vendiam peles de ovelhas, banhavam o gado, compravam querosene, gasolina, carregavam as baterias dos raros automóveis da comunidade, negociavam campo, vendiam ovelhas, gado, cavalos, e decidiam o preço da semente da cebola. 

A mangueira, localizada a cinquenta metros da porta do estabelecimento, emitia barulhos de patas de cavalos e os gritos  ritmados dos peões que organizam o gado para entrar no brete, que desembocava num banheiro para banhar os animais contra parasitas. Na continuação ficava o piquete, pequeno espaço de campo, onde gado ficava até que o evento do banho fosse completado.

Sentados em bancos de tábua de trinta, a turma expelia baforadas de fumaça de seus cigarros de palha, enquanto, entre uma conversa e outra trocavam de mão em mão um copo de cachaça de péssima qualidade, o que era denunciado  pelas caretas que faziam. Num canto, numa altura de um metro e vinte um rádio da marca Tele União falava da feira que iria acontecer no Herval e região e também dava recados da comunidade campeira que eram ouvidos com muita atenção.

O armazém, que era parte de uma casa de alvenaria, permitia que os familiares entrassem no interior da habitação. No final de um corredor ficava uma porta lateral que tinha na sua frente, no jardim, um pé de jasmim e a aroma de suas flores inundavam o ambiente de toda casa, numa oferta de desodorante gratuito, mas de ótima qualidade.

Perus, galinhas, porcos, frangos e até filhotes de avestruz circulavam no pátio e redondezas; uma festa da bicharada. Atentos, olhavam para todos na espera do desejado alimento que ainda não tinha chegado. Barulho de milho, tumulto, a corrida era grande; "saiam da frente senão o porco te derruba”, alguém gritava.

Tinha o almoço, o café da tarde, a janta, o pós-dia e o planejamento do dia seguinte, uma festa interminável, principalmente para a gurizada, que estava sempre na expectativa do que iria acontecer.

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