terça-feira, 17 de novembro de 2015

O "Cárcere"

by J Costa

Não era um elefante. Não era um animal qualquer; era um homem. Um homem que de vez enquanto tirava um tempo para viver dentro de uma área de seis metros quadrados.  O espaço era uma garagem aberta. Era neste espaço sem portas nem paredes que o homem deslocava-se em trajetórias aleatórias, mas nunca ultrapassando os limites da garagem.

Conta-se que na Índia adestram-se os elefantes prendendo uma corrente de mais ou menos vinte metros no pescoço do animal e a uma árvore. Ao longo do tempo o bicho limita-se a passeios condicionados ao comprimento da corrente. O adestrador entende muito bem o processo que se estabelece entre o comprimento da corrente e o cérebro do elefante. Depois de um período que já está definido na receita passado de pai para filho, o adestrador coloca o elefante embaixo da árvore sem a corrente e, sem surpresas, o bicho circula no limite de vinte metros de percurso. Pronto, ele está preso ao seu limite imaginário.

No dia seguinte lá estava o homem. Dava passos ritmados e sem pressa, dentro do seu quadrado. Prendia algo entre os dedos em uma mão nervosa que se alternava em movimentos articulados de sobe e desce. Olhava para todos os lados, ia até a marca fictícia dos dois por três metros e voltava. Estava em sua vitrine sem vidros, mas com fronteiras marcantes e construídas para a sua realidade. Estava condenado a sua prisão. Uma masmorra, onde as paredes eram tênues cortinas de ar. Não havia grades e nem concreto. A arquitetura da prisão não tinha design especial nem torre de controle com faroletes especiais para anunciar fugas. A fuga era impossível. Ele era refém da prisão construída com os melhores materiais disponíveis na natureza: neurônios biodegradáveis. A tecnologia, embora primitiva, ainda era considerada de ponta.

O "cárcere" voltou a ser apenas uma garagem. O espaço se alternava entre dois mundos, o do escravo e do proprietário do espaço, um homem aparentemente livre. 

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