sábado, 8 de novembro de 2014

A culpa

por Jornei Costa

A culpa de eu não tirar na Mega-Sena é do João Batista Pereira Neto de Azambuja Tavares, meu tetravô, que não deixou em seu legado cultural a duvidosa prática do espírito de aventurar-se em jogos e loterias. Pronto, falei, aliás eu vinha com essa mágoa trancada na garganta a muito tempo; agora todos vocês sabem porquê sou pobre.

Em termos de instrução escolar confesso, um pouco contragosto, que tenho só uma parte do ensino básico, mas, aos trancos e barrancos, sei ler. Claro que eu sempre fui um apaixonado pela literatura e pelos cálculos, coisa que eu aprendi a fazer de cabeça. Se não mergulhei mais na arte das ciências foi por culpa da minha mãe, que embora sempre me tenha dito que o futuro está nas mãos de quem estuda, ela nunca conseguiu me explicar como o homem chegou à lua usando um veículo tão pesado; e aí resolvi gastar meu tempo jogando sinuca no clube dos Nem-Nem - nem estudam e nem trabalham.


Mas foi bom eu abrir a boca, afinal a gente nunca está livre de fofocas, e já havia um zum-zum que eu não era muito chegado aos estudos e muito menos ao trabalho. Logo eu, que sempre tive o hábito de levantar cedo, às 11 horas eu já estou com o café tomado e, certamente, já gastei uma centena de dedos de prosas com a turma da esquina do banco Internacional da Ociosidade Perene.


Uma noite tive uma luz: vender roupas de grife. O tempo passou, gastei algumas centenas de quilocalorias da minha nobre energia, mas o negócio não saiu da minha cabeça e tudo por culpa dos meus pais, que se negam a fazer o aporte de uma “graninha”. É sempre assim, a gente batalha, batalha, e quando chega a hora dos pais dar uma mãozinha, eles não fazem nada. Pelo menos agora vocês sabem de quem é a culpa se não tive sucesso nos negócios.


Mas fazer o que, tentar a gente tenta; vejam a quanto tempo que espero uma boa oportunidade de emprego, mas o mercado não reage. Só nos últimos cinco anos enviei dois currículos, e, nada. Depois, esses fofoqueiros vão dizer que eu não quero trabalhar, mas não sabem eles que a culpa não é minha e, sim, da globalização.


Resumindo estou chegando a conclusão que a natureza está conspirando contra, afinal vocês acham que eu tenho “culpa no cartório” se tudo dá errado para mim?

Nenhum comentário:

Postar um comentário